Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a CETESB e a SGA -Superintendência de Gestão Ambiental da USP promoveram, em 09/03, um evento híbrido – presencial e virtual – com transmissão pelo YouTube -, com o tema “A mulher na implementação da agenda ESG”. A sigla se refere à agenda das boas práticas ambientais, sociais e de governança.
O evento reuniu e homenageou algumas mulheres de destaque em diversos campos, mediado pela diretora-presidente da CETESB e superintendente de Gestão Ambiental da USP, Patrícia Iglecias.
As mulheres convidadas e que fizeram parte da mesa de debates foram a chefe de Gabinete da Presidência da CETESB, Caroline Marques Leal Jorge Santos; a assistente técnica da SGA-USP, Tamara Maria Gomes; a responsável pelo Projeto Elas Digitalizam do Instituto Rede Mulher Empreendedora, Cecília Victor da Silva; a gerente do Departamento Jurídico da CETESB, Fernanda Abreu Tanure; a gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Companhia, Maria Lúcia Guardani; e, numa participação especial, à distância, a vice-reitora da USP, profa. Maria Arminda do Nascimento Arruda.
O secretário de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, participou da abertura e chamou a atenção para a sensibilidade, inteligência e capacidade das mulheres, que cada vez mais ocupam os altos cargos nas empresas e instituições diversas, e com um olhar diferenciado para a questão social, assim como para as de gênero e ambientais.
Patrícia Iglecias lembrou a importância do encontro e da necessidade de se ter um tempo para refletir sobre o papel e os desafios das mulheres no ambiente de trabalho e na sociedade como um todo. Frisou que o tema tem avançado na Companhia, mas alertou que ele necessita se tornar uma realidade de todas as empresas.
Mencionou um estudo publicado no dia 7/3/22, pelo Jornal o Estado de S. Paulo, mostrando que mulheres em cargos de direção impulsionam a agenda ESG nas empresas e observou que isso tem sido verificado na agência ambiental paulista, cujo Conselho de Administração tem quatro mulheres, equivalente a 38% de sua composição, ou quase o triplo dos Conselhos de Administração em geral. Citou, ainda, o programa He for She, da ONU, e chamou os homens à responsabilidade de trabalhar para que a igualdade de gênero possa se tornar uma realidade.
A profa. Maria Arminda do Nascimento Arruda, a segunda mulher a ser vice-reitora da USP , comentou da importância dos cruzamentos dos temas da igualdade de gênero, dos desafios profissionais e do meio ambiente. Ela também enalteceu eventos como os realizados pela CETESB e SGA-USP, “cada vez mais necessários e que promovem uma solidariedade interna entre as mulheres, além de se tornarem um momento de reafirmação de questões essenciais na agenda de gênero”.
A Profa. Maria Arminda fez um breve histórico da luta das mulheres, desde os primeiros movimentos feministas no século 19, passando pelos primeiros congressos de trabalhadoras socialistas, em Copenhagen, com reivindicação de igualdade, e como tudo isso tem contribuído para o aprimoramento da democracia.
Sobre a realidade da temática de gêneros na USP, afirmou que até há pouco tempo havia um desconhecimento geral, porém no momento há um processo de transformação, elencando iniciativas e vitórias como o próprio fato de ela estar ocupando a vice-reitoria, avanços como os alcançados pela Superintendência de Gestão Ambiental e as bolsas de seis meses para as mães – Licença-Maternidade – e de um mês para os pais “Paternidade Responsável”.
A chefe de Gabinete da Presidência da CETESB, Caroline Marques, que tem dupla jornada, na agência ambiental paulista e como doutoranda na USP, e dois filhos gêmeos e esperando o terceiro, falou justamente de como conjugar esses cenários profissionais distintos com a maternidade. “As mulheres são estigmatizadas e muitas vezes são obrigadas a sair do mercado de trabalho. Ela elogiou as iniciativas na USP e na Companhia, destacando que a CETESB tem uma estrutura diferenciada, além de uma gestão sensível ao tema, e um ambiente de trabalho favorável e acolhedor.
A química Maria Lúcia Guardani, maratonista e com 30 anos de CETESB, por sua vez, apontou como os valores intrínsecos e que permeiam as suas atividades pessoais e profissionais, à frente da Divisão responsável pelo monitoramento da qualidade do ar no estado, se inserem naturalmente na agenda ESG e foram por ela percebidos desde o início. “Vejam a importância de uma química que não vai poluir e que vai contribuir para a saúde pública”. Lembrou dos desafios para modernizar os equipamentos e melhorar a divulgação dos dados: “Tivemos que ter coragem para tomar certas decisões”, declarou.
Cecília Victor da Silva observou que o seu projeto Elas Digitalizam visa o empoderamento financeiro da mulher. Segundo ela, as experiências “na ponta, onde as mulheres são exploradas, em situação de vulnerabilidade social” têm consolidado sua visão sobre a importância da implantação da agenda ESG. Informou que, na pandemia, as mulheres pretas foram as mais impactadas. “Precisamos ter construção participativa com essas mulheres. Não tem como falar em sustentabilidade sem enxergar a vulnerabilidade social de mulheres e homens”, afirmou, esclarecendo que o desenvolvimento social acaba permitindo a governança.
A advogada Fernanda Tanure falou das dificuldades da mulher na advocacia. Com base em suas experiências, ela, que também acabou de retornar da licença-maternidade, disse que desde cedo ouvia conselhos no sentido de que se tivesse a pretensão de ser mãe futuramente, deveria prestar concurso público. E ela, de fato, viveu experiências difíceis, “verdadeiras afrontas à mulher e à mãe”, com salários reduzidos e desvalorização profissional, além do desestímulo a seguir a carreira. Elogiou a CETESB, destacando-a como uma das poucas “empresas-cidadãs”, com direito a seis meses de licença, podendo se somar a um mês de férias. Ela também chamou a atenção para o fato de a OAB ter pela primeira vez uma presidente mulher, lembrando das dificuldades das representantes do gênero feminino ocuparem cargos inéditos na área jurídica.
Por fim, Tamara Gomes fez questão de elogiar a presença de homens no auditório da CETESB, no evento, reforçando que “eles precisam escutar e fazer parte de tudo isso”. Ela mostrou os dados da divisão de gênero na USP, lembrando da criação do escritório USP Mulheres, com a consequente criação de comissões de mulheres em todos os institutos da universidade, “para apoiar a mulher e trazer informações antes desconhecidas.” Ela deu como exemplo o dado de desigualdade na docência, em que 63% são homens e apenas 37% são mulheres, explicando que é pela docência que se atingem os cargos de governança. Porém, entende que o cenário está mudando e “a prova disso é este evento!”.
Texto: Mário Senaga
Fotografia: José Jorge