O artigo científico, de coautoria de William Viveiros, gerente do setor de Ecotoxicologia Aquática, avalia a toxicidade de nanopartículas.
Foi publicado no International Journal of Nanomedicine o artigo “Avaliação da toxicidade in vitro e in vivo de nanopartículas de prata estabilizadas com Goma Arábica”). Trata-se de um trabalho conjunto de especialistas locados no IPEN/CNEN, na University of Missouri, na CETESB e na DNA-Índia, entre eles, Joana Maziero, do Laboratório de Ecotoxicologia do IPEN, e William Viveiros, gerente do setor de Ecotoxicologia Aquática da CETESB.
Em entrevista ao site da CETESB, o coautor William Viveiros explica como as pesquisas científicas em nanotecnologia podem contribuir para a avaliação do impacto causado por poluentes ou substâncias químicas nos ecossistemas.
Preliminarmente, o que trata a nanotecnologia?
A nanotecnologia, que está cada vez mais difundida industrialmente, compreende a investigação e o desenvolvimento de materiais em nível molecular e atômico, em uma escala nanométrica de 1-100 nm. As nanopartículas, pelo seu tamanho reduzido, formas variadas e elevada razão área superficial/volume, aumentando significativamente a superfície de contato com o meio, são um veículo eficaz para o transporte de substâncias.
As nanopartículas de prata, devido a sua propriedade bactericida, são incorporadas a diversos materiais como curativos, refrigeradores, palmilhas antimicrobianas, purificadores de ar, em instrumentos cirúrgicos, desodorantes, cosméticos, entre outros.
Como as nanopartículas de prata podem afetar o meio ambiente, em especial, a comunidade aquática, e o que pode ser feito?
O aumento na utilização e produção das nanopartículas de prata tem gerado grande preocupação quanto aos impactos ambientais e potenciais riscos à saúde humana e ao ambiente. As comunidades aquáticas podem ser expostas tanto pelo lançamento de efluentes como por fontes difusas.
Com isso, há uma tendência de desenvolvimento de produtos e processos sustentáveis, a partir da utilização de produtos naturais, o que levou ao surgimento da nanotecnologia verde, que preocupa-se em minimizar os impactos ambientais gerados desde o processo de produção ao produto final, associando à nanoestrutura, compostos naturais como a goma arábica.
O artigo científico refere-se à avaliação da toxicidade das nanopartículas de prata. Como foi desenvolvida a pesquisa?
A pesquisa realizada teve como premissa a avaliação da toxicidade de nanopartículas de prata estabilizadas com proteína da goma arábica. Nos experimentos foram utilizadas multiespécies, ferramenta que possibilita a avaliação dos efeitos em organismos com complexidades distintas e pertencentes a diferentes níveis tróficos. Esses ensaios permitem uma melhor avaliação e compreensão do impacto de poluentes ou substâncias químicas nos ecossistemas.
Os organismos utilizados para avaliar a toxicidade dessas nanopartículas foram o microcrustáceo Daphnia similis, embriões do peixe Danio rerio (paulistinha) e ratos Sprague Dawley, de acordo com metodologias padronizadas e reconhecidas por órgãos Nacionais como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e internacionais como a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) e International Organization for Standardization (ISO).
Observou-se que para Daphnia similis os efeitos tóxicos dessas nanopartículas foram mais severos, seguidos pelos embriões do peixe Danio rerio. Já em ratos, a toxicidade foi observada apenas em doses mais elevadas (acima 10 mg.kg-1).
Embora a ausência de efeitos significativos, em concentrações mais baixas em ratos, ofereça maior segurança na utilização dessas nanopartículas em produtos de saúde e higiene (antibióticos, agentes antimicrobianos e antifúngicos), é importante observar o impacto a que estão submetidos os organismos aquáticos em concentrações muito baixas.
Como podem ser analisados os resultados da pesquisa?
Esses resultados elevam a importância da realização de mais estudos relacionados aos efeitos adversos que essas nanopartículas podem causar, mesmo considerando a nanotecnologia verde. Além disso, torna-se necessária uma regulamentação adequada quanto à destinação ou tratamento de resíduos com esse tipo de nanoestrutura, visto que no Brasil ainda não há legislações que estabeleçam os limites permissíveis para essas substâncias.
Cabe ressaltar que na avalição de lançamento de efluentes em ambientes aquáticos a CETESB já realiza ensaios com Daphnia similis e está implantando metodologia para Danio rerio.
Do coautor: William Viveiros possui graduação em Ciências Biológicas pela UniversidadeSão Judas Tadeu, 2001 e mestrado em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear de Materiais pelo IPEN/USP. Trabalha na CETESB desde 2004, exercendo atualmente o cargo de gerente do Setor de Ecotoxicologia Aquática.
Da publicação: International Journal of Nanomedicine é um periódico médico, que cobre a pesquisa sobre a aplicação da nanotecnologia em diagnósticos, terapêutica e sistemas de distribuição de medicamentos em todo o campo biomédico.