Os técnicos Carlos Ferreira Lopes e Mauro de Souza Teixeira, do Setor de Atendimento a Emergências da CETESB estão retornando da Antártica, para onde se dirigiram há quase um mês, no último dia 24/11, para acompanhar os trabalhos de desmonte da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), destruída durante incêndio ocorrido em 25/02 deste ano. A CETESB vem participando das ações emergenciais em consequência do acidente desde abril, quando foi convocada pelo governo brasileiro para assessorar na elaboração de um plano de remoção de resíduos decorrente do incêndio.
A CETESB possui larga experiência no assunto, com uma média anual de 400 atendimentos em acidentes envolvendo produtos químicos perigosos. Em 1992, a Organização Mundial da Saúde – OMS e a Organização Panamericana da Saúde – OPAS reconheceram a agência ambiental paulista, subordinada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Governo de São Paulo, como um Centro Colaborador em Prevenção, Preparativos e Resposta às Situações de Emergência Química para toda a América Latina.
A Estação Antártica Comandante Ferraz localiza-se na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, arquipélago Shetlands do Sul. Essa região apresenta temperatura média anual de -2,8ºC, sendo que no verão a média é de 0,9ºC e no inverno, de -7ºC. A maior parte da superfície livre de neve está coberta por sedimentos compostos principalmente por fragmentos e seixos de rochas vulcânicas. A cobertura vegetal na Península de Keller é formada predominantemente por briófitas e liquens que juntos somam 50% das tipologias encontradas. Cerca de 56% da área da Baía é utilizada para nidificação e foi registrada a presença de mamíferos marinhos em elevada densidade. Portanto, o ambiente lindeiro à estrutura que vem sendo desmontada e em seguida será objeto de reconstrução exige todos os cuidados necessários à sua preservação e conservação de seus atributos naturais.
Além disso, segundo fontes do Ministério do Meio Ambiente, responsável pelo Segmento Ambiental do Programa Antártico Brasileiro – Proantar, todas as atenções internacionais estão voltadas para a forma que o Brasil utilizará na reconstrução da estação científica. Países que integram o Sistema do Tratado da Antártida estão enviando representantes para inspecionar a base brasileira e a preocupação ambiental é o principal enfoque. Conforme o Tratado da Antártida sobre Proteção do Meio Ambiente, a região é designada como “reserva natural, consagrada à paz e à ciência” e o Brasil é membro pleno do acordo internacional, que este ano comemora 53 anos de assinatura.
A base brasileira funcionou por 27 anos no local. O complexo tinha cerca de 2.600 metros de área construída, incluindo laboratórios, alojamentos, oficinas, garagens para lanchas e embarcações, biblioteca e enfermaria, entre outros. O incêndio teria ocorrido na praça de máquinas, onde ficavam os geradores de energia. Os principais aspectos de gestão ambiental associados ao desmonte da estação incendiada estão relacionados à possibilidade, ou potencialidade, de ocorrência de impactos durante estas atividades, como um eventual vazamento e contaminação de sedimento e águas por óleo diesel de máquinas, durante o transbordo de equipamentos e escombros, ou incêndio ou explosão provocado pela utilização de produtos químicos no corte de chapas metálicas, ou ainda pelo aumento de ruído e vibração.
Nesse sentido, a contribuição dos técnicos da CETESB nos trabalhos desenvolvidos no momento na base brasileira na Antártica, basicamente na gestão ambiental da operação de desmonte, é sempre nas orientações de coleta de amostras e observação de cenários de riscos, como operações de carregamento e transferência de combustível. Conforme relato dos técnicos, durante uma dessas operações ocorreu pequeno vazamento que atingiu uma praia, requerendo colocação de barreiras absorventes. Os técnicos contam também que os trabalhos “são sempre difíceis em razão das mudanças bruscas das condições meteorológicas, o que provoca a interrupção das atividades planejadas”. Apesar de todas as dificuldades e contratempos, eles afirmam: “Os trabalhos de desmonte estão superando as expectativas. Nossas contribuições técnicas são sempre acolhidas pela Marinha, o que vem resultando num bom trabalho”.
A previsão de retorno e chegada ao Brasil dos técnicos Carlos e Mauro é para o próximo dia 21/12. Há previsão de um técnico do setor de áreas contaminadas da CETESB se dirigir para a Antártica, em mês próximo, dando continuidade à assessoria especializada ambiental por parte do Governo do Estado de São Paulo.
Texto: Mário Senaga