A abertura do WBIO 2022, realizada hoje, 07/06, no Auditório Augusto Ruschi, localizado em Pinheiros, na sede da CETESB, marca as comemorações da Semana do Meio. O evento internacional, promovido por um grupo de parceiros na esfera global, ocorre até 09/06.
Segundo os organizadores, o objetivo é fomentar a reflexão crítica para a questão da biodiversidade e das práticas locais e subnacionais que tenham potencial de serem replicadas. O evento pretende facilitar o acesso a recursos e parcerias de fontes diversas, democratizar conhecimentos e envolver atores de múltiplos níveis da cadeia de biodiversidade a fim de consolidar o GBF – Marco Global de Biodiversidade, até 2030.
A diretora-presidente da CETESB, Patrícia Iglecias, uma das componentes da mesa de abertura, afirmou que preservar a biodiversidade requer ações efetivas para a manutenção dos processos ecológicos, responsáveis por garantir a sobrevivência da humanidade.
“A perda de biodiversidade da fauna e da flora pode ocasionar o colapso de ecossistemas inteiros, acelerar processos de desertificação, e afetar de forma negativa a disponibilidade hídrica e o clima. Causando enormes prejuízos à população”, pontuou.
Segundo ela, além dos danos potenciais da perda de biodiversidade, é necessário considerar o valor que a enorme variedade de espécies nativas do Brasil representa.
Patrícia afirma não ser possível avaliar de forma precisa a quantidade de compostos úteis presentes nos diferentes organismos existentes na floresta, nem o valor econômico de espécies que poderiam ser exploradas comercialmente. “Do ponto de vista econômico, suprimir a floresta pode significar destruir algo cujo valor não foi mensurado de forma precisa.”
A dirigente considera que preservar não significa impedir o desenvolvimento, mas sim valorizar a biodiversidade para que as decisões de uso de recursos naturais considerem o preço e a importância desses montantes, e que essa utilização tenha medidas para mitigar e compensar os impactos causados ao meio ambiente.
“Esse é o desafio que a CETESB, como agência ambiental do Estado, enfrenta diariamente ao exercer seu papel de órgão licenciador. O desenvolvimento econômico e a proteção ao meio ambiente não podem se opor, ao contrário, conforme dispõe o artigo Art. 170 da Constituição Federal, a ordem econômica deve observar, como um de seus princípios, a defesa do meio ambiente.”
O secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Fernando Chucre, agradeceu a oportunidade de sediar o encontro. “A questão da articulação e contribuição dos governos subnacionais nessa pauta é importante para o planeta como um todo.”
Segundo ele, ainda vivemos à sombra da conjunção de várias crises: sanitária, ambiental, climática e econômica. “E a pandemia continua fazendo vítimas no mundo inteiro. Nunca foi tão evidente e necessária a integração das agências para a retomada sustentável do planeta. Assim como nunca foi tão vital que se recupere e preserve a biodiversidade da segurança hídrica e alimentar, que são fontes de recursos econômicos e bem-estar humano.”
A Secretária Executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, maior cargo da agenda global na área, Elizabeth Maruma Mrema, em uma participação online, ressaltou a importância da união dos governos locais e subnacionais em prol da biodiversidade.
“Estamos aqui reunidos para começar a transformar e mudar as políticas públicas e estruturar programas para melhora dos ecossistemas. A Comissão da Biodiversidade ainda é a única que tem um plano de ação para as cidades e governos estaduais. Estes são os executores das diretrizes e programas de nível nacional e internacional. O WBIO2022 é o processo de alavancagem da contribuição destes atores para o quadro estratégico da Convenção.” Ponderou a Secretária.
O Itamaraty foi representado por Carlos Augusto Rollemberg de Resende, da divisão de Meio Ambiente. Ele parabenizou o governo de São Paulo e os demais organizadores e apoiadores pela realização que aborda um tema de extrema relevância.
“Temos acompanhado vários encontros que abordam a temática ambiental, o que demonstra que o mundo está mobilizado pelo meio ambiente, e o Brasil mantém seu histórico de engajamento nos fóruns multilaterais, buscando soluções para os principais desafios ambientais que toda a humanidade enfrenta.”
O diplomata considera que apesar dos desafios serem enormes e globais as repostas precisam ser locais. “Os governos subnacionais locais terão um papel fundamental na implementação do GBF, por isso, é importante o engajamento, porque o Marco Global precisa ser inclusivo desde a sua concepção”, concluiu.
A conselheira para Assuntos Ambientais da embaixada da República Federal da Alemanha no Brasil, Friederike Sabiel afirmou que entre a percepção pessoal e a preservação efetiva de grande escala existe uma lacuna. “No passado, nós já tivemos bons objetivos, mas fracassamos por falta de medidas concretas.”
Ela afirma que proteger o clima e a biodiversidade são prioridades do governo alemão. “Estamos empenhados em um novo marco global ambicioso pela biodiversidade, após 2020. Além disso, precisamos de financiamento e de um mecanismo de implementação forte para assegurar que os objetivos serão alcançados.”
O diretor da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, afirmou que a pauta da biodiversidade no estado de São Paulo é feita por muitas mãos. “Só sabendo o que temos seremos capazes de falar com a sociedade e mostrar a importância desses espaços para todos. Precisamos manejar melhor a biodiversidade e retirar espécies exóticas para reintroduzir espécies nativas. Necessitamos enriquecer as áreas protegidas e restaurar mais.”
A primeira etapa do evento foi encerrada pelo oficial de programa da secretaria da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em Montreal (Canadá), Oliver Hillel. Ele é responsável pelo envolvimento de Estados, Regiões e Cidades no trabalho da Convenção e pela integração da biodiversidade nos setores econômicos e desenvolvimento.
Hillel afirmou que os governos subnacionais e locais não são separados dos governos da convenção, pois fazem parte dos mesmos governos e têm uma função de representar e fazer as sinergias entre todos os envolvidos.
“Os 196 governos nacionais da Convenção têm um desafio enorme. Nós precisamos da natureza como parte do nosso desenvolvimento econômico. A nossa ambição nesse momento é de ajudar os governos e a ONU a fazerem essa integração horizontal, por meio dos diversos setores de um governo. Ao mesmo tempo devemos concretizar a governança em todos os níveis, entre esses 196 países, que possuem governanças características.”
Atingir esse objetivo será possível, segundo ele, por meio de cinco temas que serão discutidos no decorrer do evento. São eles: apoio à governança; cidades; economia verde e azul – bioeconomia e finanças; áreas protegidas e outros instrumentos de conservação; e ciência.
A abertura contou, ainda, com a participação de Ingrid Coetzee, diretora da ICLEI biodiversidade, Natureza e Saúde; Ivan Dragonic, diretor executivo da Regions4; Hugo Rivera-Mendoza, líder de equipe do apoiador do WBIO2022; Juliana Marcondes Bussolotti, presidente da Associação Cunhambebe da Ilha Anchieta; e Yuna Chun, representante do Banco Mundial e do C4B.
A íntegra do evento pode ser acessada pelo link: https://youtu.be/RCbyuafTMQs
Texto: Cristina Olivette
Revisão: Cristina Couto
Colaboração: Mário Senaga
Fotografia: Pedro Calado