[vc_row][vc_column][vc_column_text]Engenheiro civil e químico, ex-diretor presidente da Cetesb, atualmente respondendo pela Secretaria de Meio Ambiente de Ribeirão Preto, um dos pioneiros na história desta Companhia, Otavio Okano concede entrevista ao Fórum de Químicos.[/vc_column_text][vc_column_text]P – Qual é a sua formação profissional?
O – Eu sou engenheiro civil, formado em 1973, e sou químico industrial superior, formado em 1981. Trabalhei muito tempo como químico chefiando o laboratório da CETESB em Ribeirão Preto.
P – Por quê, após se graduar em engenharia, decidiu-se pela Química?
O – Quando entrei para a CETESB, para chefiar a Divisão de Laboratório de Ribeirão Preto, eu achava que a minha formação de engenheiro não era compatível com a função que eu exercia na Companhia, o que me levou a cursar Química Industrial. Contudo, eu já gostava muito da Química, tendo inclusive ministrado aulas de laboratório de Saneamento, Química Sanitária e Química Tecnológica na Unicamp.
P – Como a formação em Química influenciou sua vida profissional?
O – A minha vida profissional é uma decorrência de ser engenheiro e químico. É interessante tocar neste ponto, pois como me voltei para a área ambiental ao ingressar na CETESB, percebi a grande importância da Química não apenas nas análises de laboratório, mas também na análise de processos industriais. Neste tipo de análise, você precisa estabelecer quais são as emissões geradas pelo processo e seu impacto no meio ambiente. Portanto, evidentemente, o meu conhecimento em Química muito ajudou no meu desenvolvimento profissional dentro da CETESB.
P –Como se deu seu início na profissão?
O – Eu me formei engenheiro, como já disse, em 1973. Logo após a formatura, fui cursar pós-graduação em Hidráulica e Saneamento. Durante o curso, tive um professor, o Prof. Dr. Jurandyr Povinelli, a quem sou muito grato, o qual, vendo em meu histórico que eu havia ministrado aulas de Química em cursinhos quando estudante, indicou-me para, na Unicamp, ministrar aulas de Química Tecnológica. Na época, a Unicamp havia criado o curso de tecnólogo em Saneamento, do qual são oriundos diversos colegas que passaram pela CETESB. Eu ministrava três disciplinas básicas: Química Geral, Química Sanitária e Laboratório de Saneamento. Você percebe a grande abrangência que a Química teve em minhas atividades. Então, ingressando na CETESB, aproveitei a oportunidade para fazer o curso de Química Industrial em Ribeirão Preto.
P – Como ingressou na CETESB?
O – Eu ingressei na CETESB a convite do falecido gerente de Campinas, depois diretor de controle e presidente da Companhia, engenheiro Nelson Vieira de Vasconcelos, que era meu colega docente no curso de Tecnólogo em Saneamento na UNICAMP. No processo de expansão pelo qual a CETESB passou em 1978, ele dizia que a Companhia buscava, tanto em Campinas quanto em Ribeirão Preto, um chefe para a Divisão de Laboratório. Ele pediu que eu escolhesse entre as duas cidades. Optei por Ribeirão Preto, pelo fato de minha família ser daquela região.
P – Quais foram as suas impressões durante sua permanência na Companhia?
O – Durante minha permanência na CETESB, que já soma quase quarenta anos, a Companhia passou por uma série de transformações, foi se modernizando, se atualizando, e é uma empresa que sempre primou pela qualidade técnica e pelo rigor nas atividades que exerce. Tenho certeza de que, se existe um órgão que todos respeitam, e no qual não existe corrupção, este órgão é a CETESB. Isso é reconhecido não apenas por nós e, como funcionários, devemos nos orgulhar disso, mas também pela sociedade civil como um todo.
P – Quais são as diferenças principais, e já enumerou algumas, entre a CETESB de quando ingressou e a CETESB atual?
O – Quando ingressei na CETESB, ela era uma empresa que trabalhava única e exclusivamente na questão de comando e controle. A partir do início dos anos 2000, a CETESB passou a ser uma empresa muito mais de diálogo, do que simplesmente comando e controle. E observamos que, tendo um diálogo maior com o setor produtivo e a sociedade, você obtém melhores resultados. Isto porque você começa a perceber quais são as necessidades do setor empresarial, e o que a sociedade espera do trabalho da Companhia. Haja visto que muitas coisas que o Ministério Público faz hoje são calcadas em cima de resultados de trabalhos realizados pela CETESB. Em Ribeirão Preto, tínhamos um promotor do Ministério Público que dizia que, entre um laudo encomendado a qualquer laboratório comercial e um laudo da CETESB, o da CETESB tinha valor superior ao outro apresentado. A própria Comissão de Meio Ambiente da Segunda Turma de Desembargadores diz o mesmo.
P – Quais os profissionais da CETESB que mais influenciaram sua vida profissional?
O – Duas pessoas que muito me influenciaram no início foram o engenheiro Nelson Vieira de Vasconcelos e o engenheiro Ivens Telles Alves, com quem aprendi muito a respeito da postura profissional dentro de uma empresa, e a quem sou muito grato por ter sido ele quem me levou para Ribeirão Preto. A respeito dos diretores da CETESB, tive uma convivência longa com o Dr. Nelson Nefussi, em cuja gestão de diretor de controle, eu fui contratado. Como presidente, ele também foi uma pessoa de absoluta retidão e grande capacidade de trabalho. Trabalhei também com alguns diretores como o Dr. Paulo Ferreira, que me nomeou como gerente em Ribeirão Preto, juntamente com o Dr. Dráusio Barreto e o engenheiro Orlando Cassetari. Meu agradecimento todo especial também para Antônio Rubens Costa de Lara, que foi quem me trouxe a São Paulo para ser diretor de Controle em 2004.
P – Há algo que o faça ter saudades dos “velhos tempos”?
O – Se há algo de que sinto saudades? Bem, éramos mais jovens, nossa convivência era menos estressante, diferente de hoje, até pelas próprias exigências atuais do trabalho. Hoje, o mundo exige mais, a sociedade cobra mais, portanto é maior o nível de “stress”. Outra coisa que é preciso notar é que a CETESB precisa de novos funcionários, necessita aumentar seu quadro de pessoal, porque a cobrança hoje é muito maior que antigamente.
P – O que mais o tem marcado, positiva e negativamente, em sua vida na CETESB?
O – O que me marca muito, num país como o Brasil, cheio de corrupção, é a honradez da Companhia. Isso é algo que ninguém tira dos funcionários. Entristece-me um pouco o fato de haver mudança de direção de quatro em quatro anos, o que dificulta a continuidade de trabalhos. Algumas vezes, a mudança é de 180 graus. Aliás, eu gostaria de dizer que um dos programas da Companhia que mais deram certo foi o Proconve. Conseguimos, e isso dá muita satisfação em dizer, que o ar de São Paulo se tornasse respirável graças à redução das emissões veiculares ao longo do tempo. Sabemos que no interior do Estado não são as indústrias as maiores fontes poluidoras. A poluição das águas, por exemplo, é maior hoje naqueles municípios que não fazem o tratamento do esgoto doméstico.
P – Quais foram os desafios mais significativos que enfrentou na sua vida profissional?
O – Até o cargo de gerente, eu achava que tinha capacidade para exercer. Quando eu fui convidado para ser diretor, pensava, comigo mesmo, se eu realmente teria condições para exercer a função. Eu vim em 2004 como diretor, e em 2006 o Dr. Rubens Lara saiu para assumir a Casa Civil. Eu era o diretor mais novo, e surpreendentemente fui convidado para assumir a Presidência. Este foi um desafio muito grande. Como é que um “caipira” do interior, vindo da Agência de Ribeirão Preto, chega a esta posição? Então, eu pensava comigo e comentava com minha esposa e meus filhos: “Será que eu vou dar conta?” Mas, graças ao bom Deus, que nos iluminou, conseguimos fazer um bom trabalho. E, com tudo isso, voltei em 2011 e fiquei por quase seis anos consecutivos como presidente, o que é um fato inédito na Companhia. Sou muito grato a Deus e à minha família, por permitir que eu ficasse sozinho em São Paulo por bastante tempo. Nos últimos anos, eu trouxe minha filha e convivemos aqui, mas foi um desafio muito grande. Você ficar a semana inteira sem a família; sofrendo, no meu caso, e é até estranho eu dizer isso, pressão por todos os lados, inclusive de baixo, que era a pressão do corpo funcional, que cobrava coisas não do presidente, mas da pessoa do Okano. Este foi, portanto, um enorme desafio.
P – Suas considerações finais…
O – Sou muito grato à Companhia. Tudo o que eu tenho, hoje eu devo a ela. Meu patrimônio, um filho médico, uma filha publicitária, tudo isso eu devo à Companhia. E a Deus. Nesse período, eu realmente formei alguns amigos aqui dentro. De forma geral, na vida, a gente tem muitos colegas, mas temos também pessoas que são extremamente próximas. Sou muito feliz por estar na Companhia, tenho orgulho de ser funcionário da CETESB e espero continuar durante algum tempo, enquanto tiver saúde e forças, a batalhar junto com vocês. Agradeço muito terem escolhido esta humilde pessoa para falar um pouco dela própria. Muito Obrigado![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]