Matéria orgânica é todo o material de origem vegetal ou animal produzido no próprio ambiente aquático (autóctone) ou introduzido nele por meio de despejos ou carreamento, ou seja, pelo arraste por água de chuva (alóctone).

A matéria orgânica sofre um processo de decomposição que implica no consumo do oxigênio presente no meio. Esse processo tem sua velocidade acelerada com o aumento da temperatura, isto é, altas concentrações de matéria orgânica, sobretudo em temperaturas acima de 20°C irão acarretar na depleção do oxigênio dissolvido, podendo levar a mortandades maciças.

Com a decomposição da matéria orgânica liberam-se nutrientes para o meio que serão utilizados pelas algas e vegetais superiores para o seu crescimento. Geralmente, em ambientes naturais há baixa concentração de matéria orgânica e escassez de nutrientes, limitando o crescimento das algas.

Os principais nutrientes são o nitrogênio e o fósforo e sua importância para o meio aquático está relacionada com a produção primária do ambiente (por algas e vegetais superiores). A produção primária é a base de sustentação das teias alimentares estabelecidas nas regiões fóticas (que recebem luz solar suficiente para a realização de fotossíntese) dos ecossistemas.

A entrada de matéria orgânica de origem antrópica no meio aquático aumenta muito a quantidade de nutrientes disponíveis no meio, desequilibrando os processos de fotossíntese e decomposição. O processo de enriquecimento das águas por matéria orgânica é denominado eutrofização e freqüentemente é causado pelo despejo de esgotos ou ainda de produtos como o vinhoto, acarretando graves problemas ambientais.

A eutrofização de rios, lagos e reservatórios, quando em níveis elevados, pode ter conseqüências negativas para os vários usos dos corpos d’água. O corpo d’água eutrofizado é chamado de Eutrófico, enquanto que o corpo d’água não eutrofizado é chamado de Oligotrófico.

Em um ambiente eutrófico, poderá ocorrer queda na concentração de Oxigênio Dissolvido, excesso de algas (floração) que irá prejudicar a qualidade da água para o abastecimento, o desenvolvimento excessivo de plantas flutuantes como o aguapé (Eichhornia crassipes) ou a alface-d’água (Pistia stratiotes), comprometendo assim a recreação, o uso de embarcações e o funcionamento de turbinas no caso da existência de usinas hidrelétricas (Figura 4).

Figura 4 – Excesso de macrófitas aquáticas na Represa de Salto Grande (Americana) em 19/06/06. Fonte: CETESB.
Figura 4 – Excesso de macrófitas aquáticas na Represa de Salto Grande (Americana) em 19/06/06. Fonte: CETESB.

A Tabela 1 mostra algumas diferenças entre lagos eutróficos e oligotróficos, auxiliando na identificação de áreas potencialmente problemáticas ou na identificação de uma possível causa de mortandade.

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A Tabela 2 apresenta características exibidas por lagos ou represas oligo e eutróficos.

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A maior parte da matéria orgânica em decomposição encontra-se no fundo dos corpos d’água, no sedimento, onde a concentração de oxigênio torna-se menor, ocasionando a decomposição anaeróbica dessa matéria orgânica. O processo de decomposição anaeróbica gera acidez e gases tóxicos (gás metano e gás sulfídrico, por exemplo), o que torna o ambiente inviável para a sobrevivência da fauna aquática quando ocorre em grande quantidade.

A decomposição aeróbica, normalmente, só irá ocorrer na superfície da camada depositada, onde há oxigênio presente. No entanto, qualquer fenômeno que provoque a ressuspensão do sedimento, seja por causas naturais (como a circulação de água, enxurradas ou revolvimento do fundo por peixes) ou artificiais (como a dragagem), irá colocar essa matéria orgânica em contato com o oxigênio presente na coluna d’água, levando assim à sua decomposição e conseqüente queda nas concentrações de oxigênio dissolvido no meio. Essa é uma causa freqüente de mortandade de peixes, sobretudo em lagoas ricas em matéria orgânica como, por exemplo, tanques naturais ou lagos artificiais com excesso da alimentação artificial.

Algas Tóxicas

Figura 5 – Floração de Cianofíceas (Cianobactérias) na Represa Billings em 08/06/06. Fonte: CETESB
Figura 5 – Floração de Cianofíceas (Cianobactérias) na Represa Billings em 08/06/06. Fonte: CETESB

Algumas espécies de algas pertencentes aos grupos das Cianofíceas (Cianobactérias) em água doce e Dinoflagelados no mar podem produzir substâncias tóxicas (toxinas). No caso das algas, na grande maioria das vezes, elas possuem adaptações como mucilagens e aerótopos que fazem com que tenham vantagens sobre as outras espécies, dominando assim o ambiente.

Existe muita divergência a respeito das propriedades, origem e natureza das toxinas. As florações de Cianofíceas (Cianobactérias) podem ou não apresentar diferenças ao longo do tempo, com intervalos curtos, até diferenças sazonais e também espaciais, provavelmente decorrentes de alterações entre variedades tóxicas e não tóxicas destas algas. Deste modo, uma mesma espécie pode ser ou não tóxica, o que depende de diversos fatores do meio. Se uma floração de algas for tóxica, pode ser tóxica ao zooplâncton, peixes e toda a cadeia alimentar, até mesmo para outros animais (incluindo o homem) que bebem a água.

Mortandades resultantes de florações de algas tóxicas são decorrentes da produção de toxinas e fortemente relacionadas com a alta atividade fotossintética. Freqüentemente há morte em larga escala da alga, algumas vezes seguida por sinais de uma depleção de oxigênio clássica. A menos que algum fator intervenha, a mortandade continua até que acabe a floração. Por isso é importante que o observador tenha informações sobre as primeiras fases da mortandade, para que o papel das algas tóxicas não seja subestimado.

Geralmente, em florações de algas tóxicas, durante o período diurno o pH é muito alto (9,5 a 11,0), o oxigênio dissolvido apresenta valores próximos à saturação ou acima, a temperatura da água encontra-se elevada (geralmente acima de 27°C) e, com freqüência, uma única espécie de alga está presente em grandes quantidades.

Observa-se que durante a ocorrência de florações de algas azuis forma-se uma camada de vários centímetros de espessura na superfície da água, que impede a penetração de luz (Figura 6). Isto limita a reprodução e a vida de outras espécies, interrompendo o contato da água com o ar e diminuindo a quantidade de OD.

Figura 6 – Floração de Algas na Represa Billings em 08/06/06. Fonte: CETESB
Figura 6 – Floração de Algas na Represa Billings em 08/06/06. Fonte: CETESB

As algas são organismos que produzem oxigênio durante o período em que recebem luz e consomem oxigênio em menor escala, mas o fazem no período noturno, na ausência de luz. Se no período noturno um corpo d’água chega a ficar totalmente coberta por camadas com centímetros de espessura que impedem o contato da água com o ar retirando ainda oxigênio através de seu metabolismo, a quantidade deste gás dissolvido na água se reduz drasticamente podendo acarretar a mortandade de peixes e de outros organismos. Estes problemas são ainda agravados em dias muito quentes, no verão, quando a temperatura da água se encontra mais elevada e age como catalisador para a perda de oxigênio dissolvido na coluna d’água.

O auge da mortandade de peixes ocorre dias após o crescimento algal, quando esses organismos possivelmente se encontram mais debilitados, como se estivessem estafados pelo esforço de tentar abocanhar a superfície da água à procura de oxigênio. A morte dos animais pode ocorrer, portanto, pela ação direta das toxinas ou por outras conseqüências da floração, como depleção de oxigênio, aumento da DBO, crescimento bacteriano, etc.