O atendimento emergencial em caso de acidentes envolvendo composição de trens, permeia diferentes atividades, as quais são, similarmente, colocadas em prática durante o atendimento a ocorrências em rodovias. Portanto, informações sobre as diferentes etapas de uma operação de emergência podem ser acessadas diretamente em “atendimento emergencial no transporte rodoviário“. As informações aqui constantes referem-se às principais particularidades encontradas durante um atendimento dentro do modal ferroviário.
Comunicação do acidente e acionamento
A rápida comunicação do acidente é essencial para que as ações de resposta sejam tomadas no menor prazo de tempo possível. A comunicação do acidente, realizada em geral pelo condutor do trem, deve conter informações básicas como local, data e hora do sinistro, cenário acidental (vagões sinistrados, presença de vazamentos, produtos envolvidos), condições climáticas, ambientes atingidos e outras informações pertinentes. O núcleo ou setor operacional responsável pelo recebimento e centralização das informações deve dar prosseguimento, notificando o responsável pelo acionamento de todas as equipes da empresa afetas ao atendimento à emergência, como dos demais órgãos e entidades participantes do atendimento (corpo de bombeiros, polícia militar, defesa civil, órgãos de meio ambiente do Município e do Estado, companhia de águas, etc.).
Avaliação inicial
Tendo em vista que, em geral, a quantidade de produto vazado em um acidente envolvendo uma composição é elevada, há a possibilidade de uma extensa área ser contaminada. No caso de derrames de líquidos, além da percolação do produto entre as britas que assentam os trilhos, outras áreas como pastagens, cursos e corpos d’água podem ser atingidos comprometendo a qualidade do ambiente e da saúde da população. Portanto, uma avaliação inicial do cenário contaminado é de grande utilidade para verificar a extensão da contaminação e estabelecer as áreas envolvidas no acidente. Da mesma forma, é de grande importância avaliar as condições em que se encontram os vagões sinistrados para verificar as condições de risco existentes, presença de vazamentos e possibilidade de estancamento, necessidade de realização de transferência de carga, etc. Na avaliação inicial é possível, frente às diversas informações adquiridas, propor as diferentes ações e dimensionar as quantidades e tipos de recursos materiais e equipamentos além da mão-de-obra necessária à consecução das atividades emergenciais.
Medidas de controle
As ações de controle permeiam várias atividades que são de responsabilidade e competência da própria empresa poluidora como também de diferentes órgãos como corpo de bombeiros, defesa civil, órgão de meio ambiente, etc. Tais atividades referem-se ao isolamento de área e controle de acesso, evacuação de população, monitoramento ambiental, prevenção, preparação e combate a incêndio, estancamento do vazamento, transbordo de carga, contenção e remoção do produto, gerenciamento dos resíduos líquidos e sólidos gerados.
Tão logo se estabeleça a extensão da área contaminada, faz-se necessário o isolamento da área a fim de evitar que a população lindeira tenha acesso a locais de risco. Em caso onde haja o vazamento de gases ou de líquidos com conseqüente emanação de vapores tóxicos ou inflamáveis, pode ser necessária a remoção da população para locais seguros.
Para o pleno conhecimento da extensão da área contaminada, é necessária a realização de monitoramentos ambientais com a utilização de equipamentos específicos. Através deles, pode-se detectar atmosferas perigosas/tóxicas, podendo fornecer subsídios aos órgãos competentes no sentido de estabelecer as áreas de isolamento. Muitas vezes, principalmente quando da contaminação do compartimento hídrico como córregos, rios, lagoas, etc, são necessárias coletas de amostras de água e/ou sedimento para análise laboratoriais com o intuito de conhecer se o recurso hídrico encontra-se comprometido para as finalidades segundo sua classificação de uso.
Estancamento do vazamento
Em geral, quando do acidente envolvendo composições, observa-se um elevado grau de comprometimento dos mesmos, o que via de regra dificulta ou impossibilita as ações de estancamento. De qualquer forma, quando há condições de levar a termo, tais ações são aquelas já discorridas para o transporte rodoviário (fazer link – estancamento de vazamentos – transporte rodoviário).
Transbordo de carga e remoção dos trens avariados
Usualmente, após um acidente ferroviário, as linhas férreas são danificadas, o que pode comprometer as ações de resposta pela inacessibilidade ao local por via ferroviária. Dessa forma, é fundamental que atividades de recomposição da linha sejam realizadas, para que ações como transferência de produtos a novos vagões e remoção daqueles sinistrados possam ser feitas.
Tão logo seja possível acessar o local, deve-se iniciar as operações de transbordo o que envolve a disponibilidade de vagões para recebimento da carga remanescente, além de equipamentos e mão-de-obra especializados, tendo em vista os riscos intrínsecos que essa atividade apresenta. Nos caso de acidentes envolvendo produtos inflamáveis, é necessário o aterramento antes do início do transbordo, a fim de eqüalizar a eletricidade estática entre as composições.
A remoção dos tanques avariados também é de grande importância tendo em vista a necessidade de liberação e restauração do funcionamento normal da via. Essa atividade requer, também, a utilização de recursos especializados como guinchos, vagões plataforma, a serem fornecidos pela concessionária da via. O içamento deve ser realizado após a remoção do produto de seu interior. Atenção deve ser tomada no sentido de verificar os pontos frágeis do vagão sinistrado, evitando a realização de tração de cabos em tais pontos.
Contenção e remoção do produto vazado
Acidentes no transporte ferroviário de produtos perigosos apresentam particularidades que nem sempre ocorrem no modal rodoviário. Em geral, acidentes ferroviários ocorrem em locais ermos, distantes de centros urbanos, com acesso rodoviário restrito. Esse cenário dificulta e retarda as operações de campo em face da dificuldade de aquisição e movimentação de recursos e mão-de-obra para a área do sinistro. Deve-se prever, com isso, a criação de acessos por terra com a finalidade de viabilizar a chegada ao local de equipamentos de grande porte como caminhões-carroceria, caminhões-vácuo, tratores, retroescavadeiras, etc.
Além disso, a quantidade envolvida num acidente ferroviário é potencialmente muito maior que aquela verificada no transporte rodoviário. Os recursos empregados são em número mais elevado, onerando em tempo e custo, o atendimento como um todo. Sempre que possível é desejável conter vazamentos de líquidos antes que o produto alcance corpos d´água. Isso pode ser feito através da confecção de diques de contenção com a finalidade de represar o produto para posterior remoção.
Em caso de contaminação de corpos d’água, pode-se lançar mão de técnicas como neutralização e remoção de produto no caso de óleos.
Solos e vegetação contaminados devem ser removidos com cautela a fim de não ampliar o impacto intrínseco das operações de remoção e limpeza de áreas. Sempre que pertinente, quando da intervenção em áreas vegetadas, o órgão ambiental competente deverá ser previamente informado.
As pedras britadas que assentam os trilhos são normalmente contaminadas durante acidentes dessa natureza, assim como as laterais da via. São dessa forma, outros locais onde deve-se centrar esforços durante as atividades de remoção do produto. Solos e britas não contaminados devem ser repostos a fim de restabelecer a linha.
Gerenciamento de resíduos
Devido à grande extensão de área contaminada que em geral se observa em casos de acidentes ferroviários, é freqüente a geração de grande quantidade de resíduos líquidos e sólidos, provenientes das ações de contenção, remoção e limpeza dos locais atingidos. Os resíduos líquidos são aqueles provenientes das atividades de remoção de produto empoçado, presente em corpos d´água como córregos, lagoas, ou mesmo em diques construídos para a finalidade de represamento para posterior remoção.
Tais resíduos podem ser removidos com utilização de caminhões-vácuo, bombas de transferência portáteis, remoção manual, etc. Os resíduos sólidos como solo, vegetação e lixo contaminados podem ser removidos, dependendo do cenário, com tratores, retro-escavadeiras, e remoção manual. Esta última é particularmente pertinente em locais onde outras técnicas se mostrariam impactantes ao meio ambiente e mesmo durante as atividades finais de limpeza. Em áreas sensíveis, até mesmo a remoção manual pode trazer impactos adicionais ao ecossistema. Algumas estratégias como a colocação de tapumes sobre solos instáveis, diminuem o impacto do pisoteio pelas equipes de trabalho.
Os resíduos líquidos podem ser acondicionados provisoriamente em bombonas, tambores ou nos reservatórios de caminhões-vácuo. Os resíduos sólidos podem, da mesma forma, ser acondicionados em tambores, sacos plásticos ou “big-bags”. Deve-se considerar que o volume de cada sacaria ou fardo de resíduo gerado deve ser compatível com o modo como os mesmos serão retirados do local. Se for feito através de retirada manual, o peso das sacarias não deve ser elevado a fim de facilitar a remoção. Os locais de recebimento e guarda provisória dos resíduos devem ser impermeabilizados para que o material possivelmente lixiviado não infiltre no solo. O material deve também ser coberto para isolá-lo das intempéries.
A remoção dos resíduos da área para locais de estocagem mais seguras pode ser realizada com a utilização de caminhões-carroceria devidamente lonados para evitar lixiviação do produto durante o trajeto ou mesmo com utilização de vagões gôndolas, apropriados para essa finalidade.
Após encaminhados para local seguro, coberto e isolado, os resíduos deverão ser dispostos adequadamente. Cabe ao poluidor oferecer ao órgão de meio ambiente o modo como o resíduo será tratado para que este órgão avalie e autorize o procedimento proposto.
Por fim é importante frisar que durante as atividades de campo, sejam elas quais forem, são necessárias as boas práticas de trabalho o que representa a consecução de procedimentos seguros e uso de equipamentos de segurança individual e/ou coletivo. Cada cenário a ser trabalhado requer um certo nível de proteção (com a utilização de diferentes EPIs), e deve ser avaliado antes que as atividades de campo sejam implementadas.